quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ribeirão do Carmo

Líquido claro e frio que nasce a montante e morre a jusante...
Oh sangue da terra que hoje já não é mais um rio...
Foge no embalo da gravidade, pesado de esgotos e outras porcarias....
O que fizeste no passado para hoje merecer tamanho castigo???
Oh rio de cidade históricas, heróico é a sua insistência de manter-se vivo em meio tamanho desprezo...
Você que antes carregava a vida e que agora espalha a morte é sinônimo de cólera, hepatite, amebíase e leptospirose...
Ninguém mais em teu corpo pode adentrar, a sua água já não dá mais prazer e nem mata a sede de um homem que ainda depende dessa fonte para viver...
O que te resta são canos de PVC, soltando ás mesmíssimas fétidas em seu longo caldário...
Por isso foge...
Foge! Oh rio... que não é mais de ouro...
Foge! Oh rio... de dejeto humano...



.... Aos poetas mortos que já não são lembrados.

Tio ED.

"Contribuição de um louco que correu toda a nascente que um dia invocou aos deuses, e hoje nos lembra um fundo sujo e morto, um limbo infernal..."

sábado, 15 de agosto de 2009

O ápice do turbilhão interno indecifrável vivido por aquela partícula humana, um único ser de proporções imensuráveis, um único individuo que seja, foi disparar aquele instrumento num súbito alerta diante da silhueta entre os arbustos. Mente e corpo em harmonia sinfônica. Adestrado por amarras cognitivas para se embrenhar no lamacento mundo do caos. O contraste explodindo em ações reais. Nada o prepararia para aquele instante degustando o mais puro fluido capaz de transportar sua essência rumo a um sentimentalismo primitivo. Penso e não consigo. Ajo por intuição e não me frustro. Talvez por não ter idealizado aquele momento. O cheiro, a pólvora, a grama seca. O acaso elimina todas as possíveis frustrações.
Direto no cerne e tombado ao chão aprecia o antagonismo do condicionamento físico e comportamento libertino. Deitado sob o sol incandescente corpos inchados espargidos no mato incomodam. Partiram subitamente e, como balões, incham com a falta de respostas deixadas em terra. Questões, dúvidas, aflições de um universo particular simplesmente deixam de existir. É preciso mais aço para desfazer aquela cena disforme. O grotesco é lindo quando se pertence a ele. Estou a caminho.
O chão levita em partículas baleadas pela luz. Luz que traspassa e liberta. A poeira se transforma em algo tão confortável que a resposta paira no ar. A chave é segunda de concentração. Disciplina. Sim, disciplina para se alcançar o eterno.
O tempo realmente se dilata quanto mais próximo da luz. O instante se afirma dentro de um instante temporal diminuto. Vida procurar explorar essa atmosfera retratando-a com frases nítidas, embora a racionalidade inerente ser mero recurso repressivo. Nada mais é passível de racionalidade.
Planofurado