segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Grama Sintética

Esses assuntos me constrangem. São cenas chocantes, escusas, para mim translúcidas e berrantes. Na televisão se nota diariamente. Comuns e imutáveis no condicionamento da percepção deles. Sinto-me convivendo tocando os meus, outros ombros de manequins de carne, ou então imerso num ambiente de ar denso, encarcerado de pessoas voluntariamente reduzidas a projetos de pesquisa, teses que se avolumam em gavetas de bibliotecas antigas e discursos desejosos de construir e repetir aquele mesquinho estilo de vida, cuja falência, somos cúmplices. O eu mostra suas virtudes em áreas reservadas e nos fins da semana com o auxílios externos. Uma geladeira, um carro, um apartamento na capital...São frágeis almas desgarradas que se apegaram aos ditames confortáveis da academia. Saíram de casa para se enforcaram com o cordão umbilical.
Querem pertencer a um grupo, a uma sociedade distinta que sintetiza a realidade imensurável no confinamento reprodutivo das salas de aula. Muitas vezes estudantes brilhantes, engomados, e apenas isso, nada mais. Em outras espectadores amestrados, acostumados, covardes a ponto da reclusão livresca. Devoradores de informações mascadas. No mundo se movimentam assumindo formas espectrais, corpos tratados aos moldes da pragmática espera dos desejos planejados...e prometidos. É comum encontrar entre eles uma certa escala de horários, ou algo típico de um mundo vigiado em que as atividades se organizam em datas apropriadas, em minutos convenientes. Não ostentam qualquer autodisciplina, necessitam das mãos pesadas da coerção terceirizada. Não concebem a idéia de fazer por merecer, de ler por ler, de se escolar para atender vontades pessoais, paixões particulares, e não cumprindo metas atreladas às vaidades cheias de pompa de instituições engessadas. O método permite a eclosão das maiores originalidades, das mais hedonísticas liberdades, porém de forma simultânea insiste em preservar ações formais e burocráticas que se apropriaram do conhecimento tido amostra de microcosmos da humanidade. Humanos sendo estudados por máquinas.
É cronometrado em períodos: os mais velhos acreditam deter toda a massa do conhecimento mundano, apesar de retirado de palavras lidas; os mais novos, juvenis e amedrontados, estruturas semelhantes, porém crentes de ainda estarem em crescimento, pintam os corredores como uma escola primária em maiores proporções. Olham acima dos ombros desconfiados dos acenos levantados por qualquer figura “estranha” que lhes cruza o caminho. Inclinam a cabeça, reconhecem migalhas e decoram todas as rotas, mas não lembram de um rosto sequer. Há conservação posturas apáticas e ocupadas pela simples pretensão de se sentirem assim. São limpos, sadios, nunca se sujam, sempre se encantam. Descem as escadas do ônibus com pés delicados que tornam menos provável qualquer ato falho, um deslize fora das normas, um tombo no fosso do palco; percorrem enfileirados o caminho traçado no concreto, enchem de água as garrafas de plástico, entram em sala, mudos vão embora, míopes olham pela janela especulando acerca da temperatura, se vão ou não correr o risco de um resfriado quando expostos às adversidades naturais; sinalizam para o motorista sem antes deliciar as belezas de um lanche integral empapado de acelga.

-Como eles são lindos ?! Onde compraram esse perfume ? E esse tênis...
-Nossa, fechei a prova de $"?!%#$...
-Sério ? Por que não tenta uma bolsa ?
- Não sei, vou esperar. Tenho que estudar mais, aguardar uma chance melhor. Preparar para me tornar um (a)mestrando...